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Conceição Fernando

Concelho está bem coberto com a rede social de apoio

Há 30 anos a dirigir uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), que responde atualmente a quatro mil utentes, Conceição Fernando explica que nestes tempos difíceis há
que estar atento às necessidades que vão surgindo. Diz também que compete às IPSS não dependerem apenas do Estado, e que devem procurar a sua própria sustentabilidade de outras formas, o que implica muita criatividade.

Como é que a sua vida se cruzou com o Centro Comunitário da Paróquia de Carcavelos?
Nasci em Moçambique e foi lá que fiz o curso de Serviço Social. Cinco anos após a independência, em 1979, vim para Portugal para fazer equivalência no Instituto de Serviço Social.  Como já tinha tido uma experiência profissional na área social, queria estudar e ao mesmo tempo trabalhar. Falaram-me que em Carcavelos ia abrir um centro comunitário e, por isso, fui à paróquia falar com o Padre Aleixo Cordeiro, que tinha o sonho de abrir este Centro. Mostrou-me uma casa ainda em obras de restauro e contratou-me logo. Trabalhava e, ao  mesmo tempo, fazia o estágio final do curso. Passados dois anos, em 1983, a primeira directora técnica saiu e o Padre Aleixo propôs-me a direção técnica do centro.

Acha que os cascalenses são pessoas solidárias?
Os cascalenses não são muito diferentes dos portugueses em geral. Quando alguma causa lhes toca, os portugueses são solidários. O que é preciso é fazê-los entender e sentir essa causa.

Já alguma vez teve que dizer a alguém que não podia ajudar por falta de meios?
Apesar de as pessoas acharem que nós podemos fazer tudo, temos os nossos limites. Tentamos sempre que a pessoa não saia sem um encaminhamento, sem uma resposta,
sem uma palavra amiga. Se não conseguimos com os nossos próprios meios, pelo menos procuramos saber onde poderá ter a resposta de que necessita. Procuramos que a pessoa
sinta que alguém a ouviu e que vai procurar ao máximo ajudá-la. Este é um princípio básico de toda a equipa técnica do Centro.

Com 30 anos de trabalho na área do apoio social, tem certamente uma visão de conjunto sobre as necessidades do concelho de Cascais. Qual é a sua leitura, em termos de rede de apoio e carências?
Em termos nacionais, o concelho de Cascais está bem coberto ao nível de uma rede social de apoio. Há algumas necessidades como, por exemplo, de creches da rede solidária. Há
uma necessidade enorme ao nível dos equipamentos. Com o apoio da Câmara, o Centro Comunitário está prestes a iniciar uma nova creche. Não tivemos qualquer apoio da Segurança
Social. A creche abrirá com 54 vagas, embora tenhamos o dobro em lista de espera. Já nem sequer estamos a aceitar pré-inscrições. Em relação à terceira idade, temos uma boa cobertura de apoio domiciliário e de centros de dia. No próximo ano assinala-se o Ano Internacional do Envelhecimento Ativo. Nós, aqui, sempre apostámos muito no envelhecimento ativo, no período pós-reforma. Temos muitos reformados que são voluntários.Apostamos muito no voluntariado e nos projetos intergeracionais, que são já uma tradição no Centro
Comunitário. Nesta época, temos grupos de idosos que vão às escolas da freguesia explicar às crianças a lenda do S. Martinho. São formas de lhes fazer sentir que ainda têm muito
para dar aos outros.

Se tivesse de definir o maior problema/carência social do concelho, e não apenas de Carcavelos, em termos de sustentabilidade social, qual identificaria?
Precisamos muito de melhorar a resposta a nível da saúde mental. Esta é umas preocupações que sentimos todos os dias no nosso trabalho. Com esta conjuntura económica, são
cada vez mais os casos de pessoas com problemas de saúde mental que nos aparecem e as respostas ainda são poucas. Há que dar uma maior atenção a estas situações.
Preocupa-nos também o número de desempregados que nos procuram diariamente. No Centro Comunitário estamos a tentar reinventar respostas diferentes e criativas que possam
minimizar este problema. Fundamentalmente é não termos valências estanques. Hoje são umas, amanhã podem ser outras. Acompanhamos a evolução da nossa sociedade.
Acabámos de conseguir a certificação de qualidade. Hoje em dia não são muitas as IPSS já certificadas.

Essa certificação de qualidade tem alguma implicação ao nível da captação de apoios financeiros?
Esperemos que sim. Por outro lado, há uma maior exigência porque dá-nos mais visibilidade. Os utentes estarão mais atentos e exigirão também mais de nós. Têm todo o direito de o fazer. 

Caso a situação económica se agrave, acha que há possibilidade de algumas IPSS esgotarem a sua capacidade de apoio?
Espero que não. As necessidades vão ser cada vez maiores. As IPSS vão ter que se adaptar e perceber como vão dar uma melhor resposta.

No trabalho que aqui desenvolve ao longo de três décadas qual foi a sua maior conquista?
As conquistas não são minhas, são de toda uma equipa que tenho a sortede ter a trabalhar comigo, alguns já há muitos anos. Todos eles têm este espírito que o P. Aleixo nos incutiu:
servir a comunidade.

Quanto a projetos, há algum que possa partilhar connosco?
A creche é um grande desafio porque é uma nova área nas nossas atividades. Até ao momento, as nossas atividades começavam a partir dos 6 anos e agora vamos receber
bebés. Para dar resposta a esta crise e ao desemprego estamos também a tentar criar algumas empresas sociais. Estes são os novos desafios.

Quando, ao final do dia de trabalho, regressa a casa consegue desligar-se do Centro Comunitário?
Na prática, não. Todos os dias surgem necessidades diferentes. Hoje a realidade social não tem nada a ver com a de há 30 anos. Temos como princípio estarmos atentos ao
evoluir da sociedade, respondendo às necessidades que vão surgindo. O Padre Aleixo ensinou-nos que, por vezes, temos que ter coragem de terminar com atividades que já nãofazem sentido, e responder àquilo que a comunidade precisa de nós. Essa é a razão da nossa existência.

Se pudesse voltar atrás no tempo tinha feito as mesmas opções?
Sim, até porque é um desafio diário que não nos deixa adormecer, que não nos dá uma rotina maçadora. É muito estimulante e gratificante. Todos os dias são diferentes.

(entrevista in C - Boletim Municipal, nº 4, Novembro 2011)

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