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João Miguel Henriques

Entrevista sobre o livro “Cascais: Associações com História”
Como surgiu a obra?
Esta obra tem por base um programa desenvolvido desde 2006 pela Câmara Municipal de Cascais através do Arquivo Histórico Municipal: o PRADIM - Programa de Recolha de Arquivos e Documentos de Interesse Municipal, no âmbito do qual a autarquia passou a ser responsável pelo tratamento e comunicação de um conjunto muito importante de arquivos empresariais, familiares, pessoais e também associativos. Percebemos, então, que existia um mar extraordinário de informação inédita, que permitia gerar um retrato detalhado das muitas histórias que compõem a nossa história coletiva, quase todas por contar. A riqueza dos arquivos das associações justificava este investimento. 
 
Qual foi o maior desafio?
Conseguir contar no mesmo livro a história das 56 associações fundadas antes da revolução de 25 de abril em 1974 ainda em funcionamento. Optámos, assim, por produzir 2 volumes: o primeiro, que agora se apresenta, conta a história das 34 associações fundadas entre 1886 e 1941. No segundo volume, já em preparação, apresentaremos a história das restantes.
 
Como reuniu toda a informação?
Através do PRADIM as associações depositaram a sua documentação para consulta pública no Arquivo Histórico Municipal. Estamos a falar de cerca de 60 fundos arquivísticos de associações já depositados, pelo que das 34 associações com mais de 75 anos apenas duas não têm, por enquanto, representação na Casa Sommer. O processo de tratamento é sempre o mesmo: recolhe-se a documentação, para a processar arquivisticamente, reinstalando-a e digitalizando-a parcialmente, a bem da sua consulta por todos os interessados. Toda a informação está disponível online no Arquivo Histórico Digital de Cascais e fisicamente na Casa Sommer, a casa da memória de Cascais, onde se preservam aproximadamente cerca de 120 arquivos e coleções, fundamentais para compreensão da nossa história enquanto comunidade. Para além da consulta dos fundos de cada uma das associações foi também promovida uma investigação nos arquivos da Câmara Municipal de Cascais e do Ministério da Administração Interna, assim como na Rede de Bibliotecas Municipais e na Biblioteca Nacional de Portugal.
 
O que descobriu sobre estas associações?
Todas estas associações têm uma história riquíssima e funções que quase sempre se vão adaptando às necessidades das populações. Durante muito tempo, o Estado Central não foi capaz de suprir um conjunto substancial de necessidades da população. A primeira associação fundada em Cascais, já extinta, foi a Sociedade Filarmónica Cascaense, que remonta a 1868 e tinha por objetivo «o decente recreio dos sócios e suas famílias», numa altura em que Cascais se começava a transformar na rainha das praias portuguesas. O aparecimento desta associação atesta a necessidade de os cascalenses disporem de um espaço próprio para a sociabilização, quando as pessoas ainda precisavam de saber “como” se deviam reunir… Os seus estatutos advertiam, assim, os sócios a não cuspir ou deitar pontas de cigarros no chão! É natural que, hoje em dia, estas chamadas de atenção já não constem nos estatutos das associações, porque felizmente evoluímos enquanto comunidade. Para além desta questão recreativa destacava-se outra grande necessidade: o auxílio às populações em caso de incêndio. Neste momento, a associação mais antiga em atividade no concelho é exatamente uma Associação Humanitária: a dos de Bombeiros Voluntários de Cascais, que continua, bravamente, tal como as suas congéneres de Alcabideche, dos Estoris, da Parede e de Carcavelos e São Domingos de Rana, a defender-nos e a apoiar-nos todos os dias. 
 
O que destaca das associações aqui referidas?
A riqueza do associativismo de Cascais, que dispõe de associações humanitárias, culturais, recreativas, desportivas e até de ensino. Algumas associações de ensino, como a Associação Escola 31 de Janeiro ou a Sociedade de Educação Social de São João do Estoril prestam um serviço à comunidade desde 1911, porque o Estado não conseguia montar escolas nas localidades onde vieram a ser fundadas. As associações também se vão readaptando aos novos tempos. No caso dos bombeiros, cuja primeira função era o apoio em caso de incêndio, inundação ou naufrágio, a partir dos anos 20/30 começam a prestar de forma mais intensa outros serviços, como o transporte de doentes para os hospitais. Isto significa que há uma evolução de funções, de forma a corresponder às necessidades das populações. É isso que faz de Cascais um concelho tão feliz neste domínio. Em todas as associações existem pessoas que abnegadamente lutam pelo espírito do associativismo para alcançarem os seus objetivos em diversos domínios. Cada uma delas, no seu nicho ou nos seus múltiplos nichos, dá o seu melhor para construir um concelho mais plural. Note que tanto existem associações à beira-mar, como o Clube Naval de Cascais, ou no interior do concelho, nomeadamente em Talaíde ou na Malveira.
 
Qual a importância da história das associações para a história do concelho?
É fundamental, pois todas as associações contribuíram de forma ativa para a transformação e evolução do nosso concelho e até tiveram papel de destaque em alguns dos momentos mais simbólicos da história do nosso país. Por exemplo no 5 de outubro de 1910, as novas da República foram transmitidas a Cascais pelas bandas da Sociedade Musical União Paredense e da Sociedade Recreativa Musical de Carcavelos.
 
Qual a importância do apoio das associações à comunidade?
As sociedades, no período em que não existiam tantas infraestruturas, respondiam a muitíssimas necessidades. É o caso das associações que este ano completam cem anos de atividade, como a Sociedade Musical Sportiva Alvidense, que teve um papel de destaque na difusão da música e da sociabilização na freguesia de Alcabideche através do teatro ou dos bailes. O mesmo sucede com o Grupo Recreativo e Dramático 1.º de Maio de Tires, com relevantíssima atividade também do ponto de vista social. Se lermos as suas primeiras atas chegamos à conclusão de que, logo no primeiro ano, a banda realizava espetáculos a favor de sócios que se encontravam doentes. Esta associação até tinha no seu nome a expressão “Solidariedade Operária” que manteve inclusivamente durante o Estado Novo, o que deve ter sido muito difícil. Dizem os locais que o Grupo, à semelhança de Tires, foi durante muitos anos, antes da democracia, uma localidade pouco querida pelas autoridades, por ser terra de opositores ao regime. Assumiu também a responsabilidade de uma antiga associação defensora dos interesses dos canteiros, a grande força de Tires ao longo de gerações, ao assegurar a continuidade do auxílio aos operários através de uma comissão de assinaturas que garantia a aquisição de passes mais económicos para aqueles que iam trabalhar para Lisboa e até para a margem sul do Tejo. Tires era então uma terra de canteiros, onde existiam grandes filões de pedra. Com o surto de construção civil, que se apossou de Cascais a partir dos anos 40, alguns desses terrenos acabaram por ser ocupados pelas construções que hoje conhecemos. Sentiu-se, então, uma maior necessidade de deslocação destes profissionais que extraiam e trabalhavam a pedra.
 
Como foi coordenar a equipa que fez este livro?
Foi um privilégio, pois é uma equipa de colegas competentes, interessados e persistentes. Processámos a documentação e trabalhámo-la de forma a produzir-se uma investigação o mais rigorosa possível, contando sempre com o apoio direto das associações, a quem devemos e dedicamos o livro que agora se apresenta.
 

Cascais Digital

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