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Patrick Monteiro de Barros

“Tinha um tio almirante, que tinha um iate. Comecei a velejar com ele, aos 5, 6 anos. Tinha uma espécie de paixão pelo mar. De tal maneira que a minha mãe tinha-me decorado o quarto como se fosse a cabine de um barco”

Vela, hipismo, congressos e golfe: é neste tipo de realizações que Portugal deve apostar para ter um sector do turismo estratégico do ponto de vista económico.
Ter conseguido a America’s Cup World Series traduz confiança na nossa capacidade em organizar grandes eventos. Além disso, Cascais é um dos melhores campos de regatas do mundo!


O Sr. é um cidadão do mundo, faz negócios em todo o lado, viaja... Porque é que batalhou tanto para trazer a America’s Cup para Cascais?
Porque é a minha terra! Vim para cá com meses. Fiz todos os meus estudos em Portugal, comecei a andar à vela em Cascais, este [Clube Naval de Cascais] é o meu clube desde miúdo. Sempre tive a vontade de fazer alguma coisa pela minha terra, pelo meu país, pelo meu clube.


Que diligências teve de fazer para trazer a prova para Cascais, depois de ter falhado a primeira tentativa?
A primeira tentativa falhou em condições que deixaram um sabor bastante amargo. Os suíços que iam tomar a decisão tinham-nos dado garantias verbais de que iríamos ser escolhidos, depois de uns ajustes à nossa proposta. Não havia nada escrito mas sou daqueles para quem uma palavra vale tanto como um acordo escrito. Depois viemos
a saber que a decisão de irem para Valência já estava tomada, por razões económicas que até se entendem. A equipa suíça teria patrocínios muito mais importantes e o proprietário
também tinha hipóteses de fazer algumas operações para a sua empresa. Chegámos à conclusão que nos tinham usado para fazer subir a parada, pois a decisão já estava tomada! Isso criou uma situação de conflito entre o Russell Coutts, que tinha ganho a Copa e o dito suíço... Conflito que acabou em tribunal, etc., e a razão fundamental foi que o Coutts queria vir para Portugal e foi marginalizado na decisão. Para além do Russell ser um grande amigo meu – inclusive ganhei um campeonato do mundo a leme de um barco em que ele era o meu táctico – a America’s Cup World Series em Cascais foi talvez uma maneira de repor as coisas no seu lugar. Estamos agradecidos ao Russel por nos dar esta oportunidade.
 


Foi por ter falhado a candidatura há uns anos que, desta vez, foi tudo mantido em segredo?
Não tínhamos um orçamento muito grande, portanto não sabíamos se conseguiríamos trazer a prova. E depois do desaire anterior, o presidente da Câmara de então, António Capucho, e o actual presidente, Carlos Carreiras acharam que era melhor negociarmos sem fazer grandes alardes.



Para si, isto foi mais uma vitória pessoal ou um acto de justiça?
Foi um acto de confiança. Cascais é um dos melhores campos de regata do mundo! Em 50 ou 60 anos organizámos dezenas de campeonatos. Tivemos campeonatos do mundo da ISAF - International Sailing Federation, que também consegui e tudo correu bem, tendo sido considerada como uma das melhores provas realizadas. É a prova de que temos uma das
melhores pistas de regata do mundo para vela – haverá umas cinco ou seis. E apesar de sermos um país pequeno e pobre temos tido uma tradição de organizar bons eventos.
Há 40 anos organizei o Campeonato do Mundo de Finns: 178 barcos! 


Cascais, pelas condições naturais, permite que uma regata seja visível da costa e isso faz com que cative imensa gente que habitualmente não vê vela... Isto pesou na decisão de trazer para cá a prova?
Pesou. No novo formato que o  Russell Coutts e o Larry Ellison quiseram dar à America’s Cup - tornar a vela muito mais um espectáculo de massa - foi também por essa razão que foram para os catamarãs. Com um barco grande como havia na última America’s Cup, com pelo menos seis metros e meio de calado, essa limitação faz com que os barcos tenham de estar mais longe. E há poucos portos ou marinas no mundo que tenham sete metros de calado. Outro aspecto tem a ver com a televisão: o grande problema é que a vela não é o futebol, um desporto que é ao cronómetro, à hora certa. A vela depende do vento! Se há vento há regatas, se não há vento não há regatas. Houve uma Copa América na Nova Zelândia em que estiveram doze dias sem regatas porque, ou havia vento a mais ou vento a menos, e isso ia arruinando a ESPN [estação de televisão]: tinha horas de satélite que não utilizou e quando foi preciso já não tinha satélite. Um catamarã com cinco nós de vento já anda, faz uma boa regata. Um barco clássico com cinco nós de vento é uma morte lenta. E como o catamarã não tem problemas de calado, as regatas são muito mais próximas de terra.



Tenciona acompanhar outras etapas da AC?
Sim, em Inglaterra e em São Diego. Temos também a opção de realizar mais [America’s Cup World Series] para o ano. Está em aberto mas há problemas de datas: temos uma faixa que vai de meados de Junho até meados de Agosto. Se vierem super-iates têm de ficar fundeados e na marina de Cascais não cabem. Isso limita-nos. Por outro lado, este ano era a  primeira prova e tivemos de agarrá-la, apesar de em Agosto muita gente estar de férias. A primeira semana de Julho de 2012 seria ideal.


Começou a velejar em Cascais. Que memória tem desses tempos?
Comecei a velejar muito cedo. Tinha um tio, que era almirante e tinha um iate. Comecei a velejar com ele, aí aos 5, 6 anos. Eu adorava o mar, já tinha uma espécie de paixão pelo mar. Era de tal maneira apaixonado que a minha mãe tinha-me decorado o quarto como se fosse a cabine de um barco, com beliche e tudo. Depois fui para a Mocidade Portuguesa, cuja secção de vela  em Algés foi uma das melhores escolas, onde se fizeram os grandes campeões portugueses. Havia uma escala para progredir e para chegar aos melhores barcos era preciso fazer muita regata.


Lembra-se das primeiras sensações que teve?
A primeira foi quando ganhei o campeonato de Portugal Juniores, tinha treze anos. Era um Moss, um barco mais pequeno que um Laser. Como eu não tinha tido boas notas
não me deram dinheiro para alugar uma camionete e levar o barco para Setúbal. Então meti-me no Moss e fui por aí [aponta o mar] para Setúbal.. Saí daqui às seis da manhã, passei uma nortada desfeita,…  completamente louco, sem colete, sem nada. Quando cheguei lá, ao fim da tarde, tinha o meu tio à espera. Disse-me assim: “o menino faltou ao respeito ao mar”. Depois ganhei o campeonato. O meu tio não tinha filhos, levou-me para a Terra Nova pois era responsável por dar assistência à frota do bacalhau. Fomos num navio, Gil Eanes, que acostou aos bancos. Quando nos íamos embora, o meu tio disse: “Agora o menino vai ficar aqui com esta gente a aprender o que é respeitar o mar”. E foi duro, muito duro, mas aprendi...
Depois, a primeira vez que andei de Style tinha 15 anos. Era daqueles miúdos que andava sempre no clube [Clube Naval de Cascais].



O que fica para Cascais depois da passagem da America’s Cup?
Somos um país pobre, não temos recursos naturais, temos uma história, uma cultura, o país é lindo embora nalguns casos tenham feito grandes esforços para o estragarem.
E somos um povo amável. Para  mim, um dos nossos maiores potenciais económicos é o turismo. O tempo do inglês que se metia no avião e ia para o Algarve passar 15 dias com sol e praia, “very cheap,  very good”, já lá vai. Os nossos custos aumentaram e precisamos de ser competitivos num outro mercado. A primeira aposta deve ser o turismo, que cria  empregos, mas temos de ir para um turismo de qualidade média/superior para ter retorno maior. Para atrair esse tipo de turistas precisamos de eventos culturais, congressos
– as Conferências do Estoril são um sucesso extraordinário – de um concurso hípico, e de ter vela. O ISAF Sailing World Championships [2007, Campeonato do Mundo de Vela Olímpica], por exemplo,  traz mil barcos, 2500 pessoas:
durante três semanas, enchem-se restaurantes, há vida. Os eventos de vela, hipismo, congressos, golfe são um chamariz...



Existe essa estratégia?
Tenho sido muito crítico... Sendo uma actividade muito importante devia haver um ministério do Turismo! Historicamente os ministros da Economia têm a tutela do
turismo, o que lhes dá os convites, etc. Depois temos tido pessoas que vão para o turismo e do assunto não sabem nada! Ora, o turismo é uma das actividades económicas mais
sofisticadas, é preciso saber. O governo do Engº Sócrates teve como Secretário de Estado do Turismo um senhor que é filho de um hoteleiro da Madeira, Bernardo Trindade, pelo menos sabe o que é um hotel. Mas foi o primeiro! Mas temos como presidente do Turismo de Portugal - um dos centenas de institutos que têm levado este País à falência! - um aparatich político, que era chefe de gabinete do PM. O que é que esse senhor sabe de turismo?! Nunca viajou, não sabe, não tem mundo.
 


Nessa aposta no Turismo, em que é que Cascais pode melhorar?
Cascais tem condições excelentes, mas precisa de se poder apoiar numa estratégia global. A promoção de um país é um investimento de uma ou duas centenas de milhões
de euros - veja-se a promoção que a Croácia ou a Malásia mantêm nas televisões internacionais. É também preciso criar um prémio de golfe monetariamente razoável, mas não vamos ser o PGA. O Concurso Hípico de Cascais estava muito bem organizado, esteve na Eurosport em prime time, mas requer continuidade, termos isso durante dez anos. Na vela, Cascais
tem das melhores pistas de vela do mundo e também condições climatéricas que nos permitem andar àvela praticamente todo o ano.


(Entrevista, in C - Boletim Municipal, nº1, Agosto 2011)

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