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Rogério Gonçalves Barata

Roupeiro do Estoril Praia.

Brilham-lhe os olhos quando recorda o tempo em que tinha 12 anos e o treinador à época, o Sr. Nunes, o chamava para fazer treino conjunto com a equipa, quando algum dos jogadores do plantel do Estoril Praia faltava aos treinos.


Rogério Gonçalves Barata nasceu em Loulé em 1948, e aos quatro anos foi viver para uma casa mesmo ao lado do campo do Estoril Praia porque o pai arranjou trabalho como roupeiro do clube. A seção de trabalho do pai, na lavandaria do clube, tinha uma porta que dava diretamente para uma das divisões da casa, e Rogério passou a conviver com jogadores, treinadores e responsáveis do clube, como se fizessem parte da sua família.


Nessa altura dizia que queria ser jogador de futebol, mas um acidente, quando ainda era um adolescente, tornou impossível a concretização desse sonho. A partir dali disse sempre ao pai que também se chama Rogério, que no futuro gostaria de o substituir no lugar de roupeiro do Estoril Praia.


Rogério começou a trabalhar muito cedo. Frequentou a Escola Primária na Amoreira, mas só fez a 4ª classe. Tinha apenas 14 anos quano foi trabalhar pela primeira vez, como porteiro do Hotel Baía. Há 29 anos, quando surgiu a oportunidade de substituir o pai no Estoril Praia, estava a trabalhar nos Armazéns Conde Barão. A emoção foi grande, tal como nos descreveu: “Fiquei tão feliz que acho que até de borla aceitava ir para o Estoril Praia. Adoro futebol e sinto-me ligado a este mundo através da atividade que aqui exerço”.


Nos bastidores dos clubes há outras pessoas que embora vivam no anonimato, contribuem para que as “bolas possam rolar na perfeição”. A família Barata inscreve-se nessa categoria. Rogério Piedade Barata, pai e Rogério Gonçalves Barata, filho, junto com as respetivas esposas, são os “titulares” do cargo de Roupeiro no Estoril Praia há duas gerações. O pai e a mãe, Emília, trabalharam no Clube cerca de 34 anos. Reformados há 29 anos, cederam o lugar ao filho e à nora, Luzia, atuais técnicos de equipamentos do clube como hoje se designa a atividade que exercem.


Em 1945 o pai de Rogério tomou a decisão de sair do Algarve e de se meter ao caminho para vir até a Cascais procurar um trabalho onde ganhasse mais. Uma parte da viagem foi feita a pé, na companhia de dois primos, em relação aos quais nos dizem que são familiares do Presidente da República. No Algarve, trabalhava na manufatura de calçado, e aos dezasseis anos, “já fazia um par de sapatos sozinho”. Por isso, quando chegou ao Estoril, com 18 anos não foi difícil arranjar trabalho como sapateiro, e passou a ganhar um salário muito superior ao que recebia na terra natal. A ligação da família Barata ao Estoril Praia aconteceu alguns anos mais tarde, em 1952, quando o pai trocou a profissão de sapateiro pela de Roupeiro do Estoril Praia. “Não foi o ordenado que pesou na decisão de abraçar uma nova profissão” mas sim a oportunidade de trazer a família para junto de si. Na altura, já tinha dois filhos, o atual roupeiro do Estoril e uma rapariga, mas entretanto nasceram mais três. O Clube dava-lhe casa, não tinha que pagar renda e as contas da água e eletricidade ficava também a cargo do Clube.


A sua nova atividade incluía contar com o apoio da esposa para o ajudar a cuidar dos equipamentos dos jogadores. Passariam a viver como se fossem os caseiros do Clube.


No seu novo desafio profissional, os dotes de sapateiro assentavam-lhe na perfeição, pois como nos explicou, “antigamente, a profissão de roupeiro, era designada como «sapateiro da equipa». Naquela época os jogadores apenas tinham um ou dois pares de botas, e por vezes, era preciso fazer consertos para que estivessem em condições de serem usadas no próximo jogo.


O que faz um roupeiro de um clube de futebol?


Os roupeiros dos clubes trabalham ao mesmo ritmo da equipa, acompanham-na sempre que jogam fora, quer no país ou no estrangeiro (treinos, jogos particulares e oficiais). São responsáveis por todo o equipamento. Pai e filho confessam que no início da atividade como roupeiros do clube aconteceram-lhes algumas peripécias. “A experiencia conta muito”, afirmam. O filho Rogério fala-nos de uma ocasião em que a equipa foi jogar à Madeira e se esqueceu de levar os dois pares de botas de um dos jogadores (Zé Carlos), e que teve que pedir ao roupeiro do clube do Nacional da Madeira umas botas emprestadas. O Estoril ganhou o jogo por 3-0, e dois dos golos foram marcados por Zé Carlos. O roupeiro do Nacional disse-lhe, na brincadeira “ se soubesse não tinha emprestado as botas”.


Quando a equipa joga fora de casa é preciso preparar o equipamento para 18 jogadores, mais ou menos 100 peças de roupa por equipa, a contar já com as mudas sempre que sejam necessárias. “No início parece complicado, mas hoje Rogério, que no início contou com o seu pai como professor na profissão, já o faz com facilidade. Os jogadores levam sempre com eles um equipamento completo, e à parte, Rogério leva mais dois por cada elemento da equipa. “O meu pai ainda é do tempo em que se estendia a roupa na rua. Felizmente, hoje temos máquinas”, diz-nos Rogério.


Emília, a mãe, confirma-nos que no seu tempo, não havia nem máquina de lavar, nem de secar, a roupa era toda lavada à mão e ela passava muitas horas agarrada ao tanque, a estender e a apanhar roupa num estendal que parecia não ter fim. No inverno era mais complicado. “Quando aparecia o sol, estendia a roupa; começava a chover, ia a correr tirá-la da corda”.


Ambos, pai e filho, não conseguem esconder o orgulho que sentem por estarem há 60 anos a colaborar com o Estoril Praia, e recordam muitos dos jogadores e treinadores que passaram pelo clube e que deixam saudades, como Fernando Santos, Mário Wilson, António Fidalgo, Pauleta, Carlos Manuel, Luís Vidigal, Paulo Ferreira, Paulo Sérgio, Mário Jorge, Litos, entre muitos outros.


Já depois de reformado, o pai de Rogério, sócio nº 77 do Clube, escreveu um hino dedicado ao Estoril Praia para recordar o clube do seu coração quando a saudade aperta. Rogério, o atual técnico de equipamentos do Estoril continua na azáfama diária e confidencia-nos que o neto, Rodrigo de 12 anos, que joga na Escolinha de Futebol do Estoril Praia já terá dito à mãe que também gostava de um dia exercer o cargo. Quiçá, haverá mais uma geração de Roupeiros da família Barata no Estoril Praia. Até lá…Força, Estoril Praia.
 
C - Boletim Municipal | 4 de julho de 2013

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